Quantos somos? Onde estamos?


A pedido do Gean (blog meu cantinho), coloco aqui um link para o projeto que está tentando desvendar quantos são os brasileiros que vivem na província de Ontário. Sei que são muitos pois a toda hora eu encontro um brasileiro "perdido" por Toronto.
O Gean também postou no blog dele sobre a falta de união entre os brasileiros e o fato dos brasileiros não darem importância a transmitir a seus descendentes a cultura brasileira ou ensinar o idioma português.
Sou brasileira sim, mas nem com tanto orgulho. Gosto muito de certas coisas da cultura como a música, arte e criatividade, gosto da facilidade que o brasileiro tem em conviver com pessoas, a tolerância em relação as diferentes crenças religiosas, nosso bom astral e senso de humor e também o idioma, que acho rico e lindo. Mas muitas são as coisas que me envergonham em relação ao Brasil e que definitivamente fez com que tomássemos a decisão de mudar de país. Tenho certeza que quando estamos absolutamente felizes em algum lugar (se é que absolutamente feliz existe) nós não mudamos, certo?
Já passei por situações chatas aqui devido a falta de educação de alguns brasileiros. Lembro de estar no metrô e uma turma de brasileiros entrar aos berros, colocando os pés nos bancos, paquerando as mulheres e falando bobagens. O que eles não perceberam (ou não queriam perceber) é que outras pessoas ali provavelmente entendiam português (seria subestimar a inteligencia achar que a grande maioria aqui é no mínimo bilingue?). Tudo bem que já vi mexicano fazendo as mesmas coisas, será que é um problema latino?
Não tenho vergonha de ser brasileira, mas também não tenho aquele orgulho de bater no peito e dizer que sou brasileira. Acho que no fundo sou do mundo e nenhum país será definitivamente o "meu país". Gosto de muitas coisas de cada cultura e não gosto de outras, ponto final. E será que se nossas famílias não estivessem no Brasil nós sentiriamos falta do país ou seriam apenas lembraças daquele lugar lindo que você visitou um dia? Tenho minhas dúvidas se temos mesmo saudade do país, da comida, etc. ou esta saudade é apenas um pretexto para não dizer que a única saudade mesmo é da família e dos amigos? Eu não sinto a menor falta, ou pelo menos, não senti ainda, de lugares, comidas, cheiros, lojas, restaurantes...nada do Brasil. Tenho sim saudade das pessoas que amo e que lá estão. Quando fui entrevistada para o meu trabalho, um dos entrevistadores (que é canadense) disse que ama o Brasil e que lá é sua segunda casa...eu disse que é a minha também (segunda casa).
Meu bisavô foi do Líbano para o Brasil quando ainda era jovem e recém casado, lá formou sua família, meu avô nasceu no Brasil mas estudou na suiça e sempre visistava o Líbano. Foi no Líbano que casou com minha avó que veio com ele para o Brasil aos 17 anos e grávida da primeira filha (minha mãe). Minha avó fala árabe, inglês, português (sem sotaque) e francês. Ela tentou nos ensinar o árabe mas só minha mãe aprendeu. Eu sei vários palavrões, comidas e vocabulário de sobrevivência (quando estive no Líbano até que não passei fome..rs..rs..) só que dos meus tios, ninguém fala árabe, todos já visitaram o Líbano junto com minha avó e todos, inclusive eu, adoraram! Todos recebem parentes quando eles vão ao Brasil visitar. Todos amam a comida árabe. Somos muito bem recebidos por parentes distantes que sequer vimos antes (inclusive uma tia-avó que tenho em Montreal)...mas depois de tantos anos, depois de ter construído uma vida, uma história, uma família, pergunta a ela se ela pensa em voltar para o Líbano, pergunte qual a pátria dela, com que governo ela fica indignada e qual programa de TV ela gosta (garanto que é uma das novelas da Globo).
Acredito que nós (meu marido e eu) ficaremos assim, como minha avó. Acredito que vamos construir nossa vida aqui, fazer nossa história e visitar sempre o Brasil. Tenho certeza que sempre receberemos bem nossos parentes e amigos e que seremos bem recebidos por eles. Tenho certeza que ficaremos indignados com o governo canadense e vamos assistir ao weather channel todos os dias pela manhã. Não ficaremos aborrecidos se nossos descendentes não quiserem falar português ou viver no Brasil assim como não ficaremos se eles quiserem!
Acho a união muito importante, mas será que tem que ser uma união por nacionalidade? Prefiro a união por interesses em comum e não apenas porque sou Brasileira.

12 comentários:

Paula Regina disse...

Estou contigo e não abro! Falou e disse..
bjs

Carol, Ênio e Leila disse...

Vários fatores unem as pessoas, entre eles está a nacionalidade, ainda mais quando vem acompanhada de uma decisão de vida como a imigração. rs Acredito que um imigrante brasileiro pode, a princípio, ter uma história mais parecida com a de outro imigrante brasileiro que alguém vindo de Angola. Quanto ao idioma, eu pretendo tentar alfabetizar a minha filha em português, não só para se comunicar bem com a família quando vier ao Brasil, mas pq conhecimento nunca é demais. Se ela quiser aprender russo eu também vou dar a maior força.

Um abraço,
Carol.

Anônimo disse...

Pela primeira vez leio um texto que tenta explicar o sentimento de brasileiro/imigrante que não enverada pelo caminho fácil do "amor-incodicional-ao-verde-amarelo" ou os jargões tão repetidos do tipo 'sou brasileiro com muito orgulho' ou 'o Brasil é o melhor país do mundo' que só contribuem para o continuismo dos problemas do país e ajudam a embotar a visão dos brasileiros que continuam a votar sem responsabilidade e fazer de conta que 'o problema não é com ele...'
Sem demagogia, como você bem colocou no seu 'post', se a coisa fosse boa no Brasil, cidadãos de grande quilate(doutores, mestres, profissionais experientes, gente jovem e cheia de força, vontade de trabalhar e, principalmente, talento) não estariam deixando muitas coisas já conquistadas para trás para recomecar a vida em outro país, sem nem mesmo ter a certeza de que vai dar certo.
Parabéns pela coragem das suas palavras.
Concordo em gênero-número-grau, como diriam no meu tempo...
Sucesso na sua jornada!

:: ultranol :: disse...

Putz, acho que é por aí mesmo... ainda não saí mas eu tenho a impressão que vou ter a mesma opinião que você...

Ana Celia disse...

Adorei esse post. Concordo com sua opiniao 100% e compartilho dos mesmos sentimentos. Se algum dia meu filho quiser aprender portugues (escrito e falado) darei o maior apoio, mas isso sera uma decisao dele.

Bjs,
Ana

Anônimo disse...

Como já disseram aqui, estou contigo e não abro! Como diz a Regina do Sindrome de Estocolmo, sou Brasileira e gosto do Brasil mas gostaria da Polonia igual se fosse polonesa. Não sinto o menor banzo. Se minha família morasse aqui, eu provavelmente não visitaria o Brasil - não por ter nada contra, mas pq já conheço o país inteiro e tem muito lugar que eu quero conhecer pelo mundo...

Não tenho "orgulho" de ser brasileira. Assim como não tenho "orgulho" de ser alta. Simplesmente nasci assim e faz parte da minha identidade. Não foi uma escolha minha. Também não tenho vergonha de ser brasileira. Como eu disse, simplesmente faz parte das minhas raízes. Eu me sinto mais orgulhosa de ser canadense pois essa foi uma nacionalidade que eu escolhi, depois de anos morando no Canada, e não pq me foi forçado mas pq eu senti identificação com os valores que eu encontrei aqui.

Se eu tivesse filhos, com certeza falaria portugues com eles desde o nascimento pois acredito que quanto mais idiomas soubermos, melhor. E se eu posso passar um idioma tão difícil como o portugues para alguem assim, de graça e de forma natural, pq não? Além do lado prático de possibilitar à criança se comunicar com a família...

Tenho amigos no mundo todo. Não seleciono minhas amizades de acordo com a nacionalidade. Não me sinto mais próxima de ninguem só pq aquela pessoa tem a mesma nacionalidade. Eu não me sentia proxima de todas as pessoas que me esbarravam no metro no Rio, pq aqui seria diferente?

Para mim, a imigração não foi um processo, uma decisão de vida. Eu me mudei a vida inteira, cada dois anos em uma lugar diferente por causa do trabalho do meu pai. Morei nos EUA por um ano quando tinha 7 anos. Mudança, para mim, é uma coisa normal e natural, portanto nunca vi a minha mudança pro canada como nada mais que uma nova mudança. Não senti que estava fazendo "um sacrifício". As diferenças culturais? Bom, não eram tão grandes como se mudar do Rio de Janeiro para o interior do Acre e do interior do Acre para os EUA... ;)

Parabéns pelo post!

:= disse...

Palavrão é uma das primeiras coisas que a gente aprende a falar em outra língua, rsrsrs
Eu tb penso como vc. Já tive a oportunidade de morar em outro país por 4 anos e nunca fui do tipo de bater no peito. Adoro meu país, apesar de tudo, mas não sou dada a extremos.
Bjs

Ana Paula disse...

Oi, Nanny. A gente tambem pensa assim. Eu fico eh com do de quem esta la, se pudesse trazia todo mundo pra ca! A gente sente falta mesmo da familia e das pessoas que amamos... ate agora ainda nao senti falta do Rio.

Gean Oliveira disse...

Oi Nanny, obrigado por tua divulgacao sobre a pesquisa que estamos fazendo aqui.

Como vivemos numa democracia, eu respeito a opiniao de todas as pessoas, porem nao concordo com outra - o que eh normal ne?

Preciso de um post para dar uma opiniao mais completa sobre o que penso e o que sinto :) E o vou fazer.

Obrigado mais uma vez. Desculpa, eu nao te enviei o e-mail pois nao o tenho na minha lista. Se voce depois puder me passar eu agradeco.

Beijo

Anônimo disse...

Gostei muito do post!! nao tenho vergonha de ser brasileira - isso seria ridiculo, pois minha educacao e valores vieram de la, mas sinto vergonha ao saber que brasileiros compram 10 caixas de "bolacha (o qq outra coisa) em promocao", sem seuer precisar de todas e nao pensam no proximo; sinto vergonha da criminalidade de SP e RJ, da corrupcao desenfreada do judiciario, do executivo e legislativo; sinto vergonha quando vejo uma pessoa jogar uma lata de cerveja no mar logo apos ter ouvido uma explicacao sobre o tempo que isso demoraria para se desintegrar, e por ai afora. Tambem sentiria vergonha se isso tudo fosse feito por canadenses ou qq outro povo, mas aqui no Canada, vejo pessoas mais "educadas" (claro que sempre ha excecao), que respeita sua opiniao e diferenca culural, vejo um governo preocupado com o futuro das nossas criancas, etc, etc. Sentir falta da familia eh realmente o motivo que nos leva a visitar o Brasil, pois se todos aqueles que amamos estivessem aqui, certamente iriamos para lugares que nao conhecemos... Sou brtasileira e sempre serei, mas estou contigo qdo diz q nao sou do tipo de bater no peito....
boa sorte!!

Fer Guimaraes Rosa disse...

essa eh uma discussao sem fim, mas o que realmente importa eh estar feliz. e quem imigra e nao esta feliz cometeu um erro e eh melhor dar meia volta. tem uma frase cliché a beça que diz "home is where the heart is". se o coracao nao estiver no lugar certo, tudo vai estar errado! :-)

Anônimo disse...

Olha, tava pesquisando sobre o Canadá e encontrei o seu blog. Compartilho com vc todos os desgostos, frutações e vergonha desse país. O post sobre a "burro-cracia" reduz todo o sentimento que temos, nada funciona aqui e pra piorar moro na cidade mais violenta do pais em número e em proporção: Recife. Gostei muito de ler suas experiências aí, me incentivou mais ainda a sair daqui e ir pro Canada, minha jornada está só no início, pesquisando, lendo... mas pretendo agilizar os procedimentos pra imigração. Vou tentar sempre acompanhar os seus posts!