Entre Brasil & Canadá.


Nosso leitor Felipe quer saber porque optamos por voltar ao Brasil. Eu fiquei de responder, mas não nego que fiquei intrigada em saber onde no blog eu disse que optamos por voltar definitivamente ao Brasil. Entenda, não estou questionando a sua pergunta, apenas fiquei preocupada por ter passado a impressão errada em algum momento. Para responder ao Felipe, que espero continue sempre acompanhando o Unzip, eu reli o Blog atrás do mal-entendido e não achei um post onde eu tenha escrito em volta definitiva, porém achei vários textos onde eu escrevi que nós queremos aproveitar o que há de bom nos dois países.
De qualquer forma Felipe, sua pergunta me fez refletir um pouco sobre algumas questões que realmente angustiam muitos imigrantes (e que eu não bato mais a cabeça para responder já que encontrei minha paz de espírito com algumas respostas):
- Será que vale a pena vender o que tenho no Brasil, juntar toda a minha grana e partir para o Canadá definitivamente?
Para nós, a resposta é: não vale! E por isso mantemos um patrimônio no Brasil para servir de teto todas as vezes que decidimos voltar, em férias, à trabalho ou definitivamente. Essa é a nossa garantia e paz de espírito. Sabemos que sempre teremos um lugar para voltar caso as coisas não aconteçam como gostaríamos. Conversando com um amigo psiquiátra, aprendi que existem duas grandes correntes na psiquiatria sobre o planejamento do futuro e a administração de nossas frustrações e que cada um de nós se encaixa em uma delas. Em uma linguagem bem leiga é o seguinte: a primeira diz que temos que planejar e visualizar o que queremos já que navegar sem rumo nos leva a lugar nenhum (o que se aproxima da teoria de O Segredo) e que realizar o que foi planejado é recompensador; e a segunda que diz que não devemos planejar nada já que o fato de não conseguir realizar o que era almejado nos tráz frustrações (acho que se aproxima com a teoria do 'deixa a vida me levar, vida leva eu...'!).Eu não recomendo que um imigrante que está apostando todas as suas fichas na imigração vá ao Canadá seguindo a segunda corrente, mas ter em mente a segunda corrente é imprescindível para a sobrevivência!
- Será que vamos nos adaptar?
Eu me adaptei rapidinho, ou melhor, eu já nasci adaptada! Sempre fui muito independente e sempre soube e lutei pelo que quero. Não há comida, distância, saudades que me faça mudar de idéia. Minha mãe uma vez me disse que sou 'cabeça-dura' ou teimosa e eu nunca me esqueço da minha resposta: 'a diferença entre teimosia e perseverança é o resultado!'. Você, mais do que nínguem, vai saber se a insistência em viver no Canadá ou no Brasil é teimosia ou perseverança! Nós (eu e marido) não temos o menor problema em ir e vir e repensar nossas escolhas e tomar novos rumos! Só não aceitamos não fazer nada pelo simples medo de errar! Ah, sim, já o marido não se adaptou tão bem, mas nada que o impeça de viver no Canadá. No caso dele, a dificuldade maior é com o idioma. Como publicitário ele é falante e conhece Deus e o mundo aqui no Brasil e lá ele ainda é um peixe-meio-fora-meio-dentro-d'agua.
- Vou conseguir emprego na minha área de conhecimento e atuação. Se sou gerente no Brasil serei também no Canadá?
Não para as duas perguntas. Exceções existem, mas são poucas e você definitivamente pode ser uma delas. Esteja preparado para não ser! Você não é melhor ou pior do que os outros imigrantes, mas a sua área de atuação pode não ter a demanda que têm aqui ou você precisa validar seus diplomas ou precisa voltar a universidade ou precisa provar que realmente sabe o que sabe! Eu fui para a mesma área que atuava no Brasil só que no Brasil eu fui dona da minha própria empresa e atuava ou pelo menos entendia da adiministração ao marketing, da contabilidade as vendas. No Canadá, meu primeiro emprego foi em uma escola de inglês e uma das minhas funções também era orientar os alunos que viajavam. Tenho certeza que fiz diferença na vida de muitos deles e conquistei bons amigos, mas por muito tempo fui tratada como a mais débil de todos os funcionários. Como se eu fosse criança ou estagiária. Não é fácil, mas acontece! Até o dia que decidi tomar as rédias do meu rumo novamente e fui convidada a ser gerente de marketing para os mercados de língua portuguesa de uma escola de idiomas.
- Vou conseguir enriquecer ao imigrar?
Eu ainda não vi isso acontecer. Conheci imigrantes que estão muito bem e muito provavelmente não estariam tão bem assim se estivessem no Brasil, mas tenha em mente que o retorno do que você investiu demora e talvez você não queira ou não consiga esperar. Ah sim! O Canadá não é considerado o país ideal para se construir uma grande fortuna do nada! Ele é considerado um país ideal para se ter uma vida confortável e estável! Para quem já teve a oportunidade de conhecer a agressividade dos americanos para negócios vai achar o canadense demorado e indeciso. Como diz meu marido: no Canadá, para morrer de repente leva-se 6 meses!
- E a pergunta que eu tenho feito para mim mesma e agora para vocês, quando eu encontro um casal de imigrantes: Imigramos por nós ou pelos nossos descendentes? Afinal, ao que tudo indica, sempre é a segunda geração que aproveita melhor o fato de a primeira ter imigrado. A busca por segurança e melhor qualidade de vida é realmente para nós, os imigrantes?
De qualquer forma Felipe, eu estou no Brasil à trabalho e meu marido está em um projeto muito interessante de novas mídias (relacionadas ao projeto 'Cidade Limpa' da cidade de São Paulo), portanto no nosso caso, como eu tenho um contrato de trabalho e uma declaração do meu empregador de que estou no Brasil à trabalho os meus dias aqui continuam contando como se eu estivesse em Toronto. Do marido também, já que é meu dependente nesse caso. Veio ao Brasil para me acompanhar. Eu logo estarei de volta à Toronto e depois à São Paulo novamente! E assim viveremos até recebermos uma proposta para Dubai, Suíça, Chile, Florianópolis, Marte, sei lá...onde a vida levar!
PS: No início do segundo ano em Toronto eu me inscrevi no George Brown College para ter um currículo mais próximo das exigências canadenses. Ainda tenho 2 módulos que vou terminar na minha próxima ida, mas a visibilidade do meu currículo melhorou muito desde que iniciei o curso. Estou desenvolvendo um projeto de coaching e consultoria de imagem coorporativa que tem sido muito interessante, inclusive aqui no Brasil, onde coaching e consultoria de imagem ainda é novidade. Entende o que eu digo sobre aproveitar o que há de bom nos dois países?
(Imagem: istockphoto.com)