Trabalhar com educação no Canadá.

Depois que escrevi o post anterior, muita gente ficou curiosa em saber como é possível ser estrangeiro e ainda assim professor de inglês no Canadá, concorrendo com os próprios canadenses. Vamos por partes:
Ser canadense ou nascido em um país onde a língua oficial é o inglês não credencia ninguém a ser professor do idioma nem mesmo garante que o indivíduo realmente saiba ler e escrever em inglês. Exemplo que temos com a língua portuguesa é o nosso Presidente da República que vive nas trapalhadas com seu sofrível português. Eu que não queria alguém com o domínio que ele tem do idioma Português dando aula para meus filhos. Com relação ao inglês e a qualquer outro idioma o exemplo acima também vale.
Muitos estrangeiros, inclusive o brasileiro, estudam muito mais gramática inglesa do que os próprios canadenses ou americanos. Isso é uma grande vantagem. Na escola onde eu trabalho 20% dos professores são canadenses e 80% são imigrantes, com inglês impecável mas um pequeno sotaque. Uma das professoras é escocêsa, onde o idioma oficial é o inglês, mas os alunos latinos e orientais sofrem para entendê-la já os alunos europeus acham lindo o sotaque que ela tem.
Para ser professor em escolas "independentes", ou seja, não regulamentadas pelas normas do Ministry of Education basta ser certificado pelo TESOL - Teachers of English to Speakers of Other Languages, Inc. (TESOL). Algumas (poucas) escolas não pedem para o profissional ser certificado mas a grande maioria exige a certificação. Os cursos do TESOL são oferecidos em muitas das escolas de idiomas e nos colleges como o conhecido George Brown, que é um pouco mais caro mas muito reconhecido.
Os professores certificados ganham em média de $ 15.00 a 25.00/hora, dependendo da experiência e tempo de casa mas podem ganhar muito mais como professores na China, Coréia e Japão onde recebem em média $ 50.00/hora. Muitos dos professores que conheço já moraram na China ou Japão. Algumas escolas também pagam um bônus de tempos em tempos, mas aí cada empresa tem seu critério.
Ser certificado pelo TESOL garante reconhecimento em vários países, incluindo o Brasil. Caso você resolva voltar a morar no Brasil você terá uma profissão, que ao meu ver, terá demanda por muitos anos ainda e o certificado irá distingui-lo dos paraquedistas, que depois de passear pela Disney voltam ao Brasil auto-intitulados "professores de inglês".

*Rafael Tabosa: sou suspeita para indicar escolas de inglês no Canadá já que vou indicar a escola que sempre tive parceria comercial: Stewart College (Victoria - BC). Veja o link aí ao lado.
Caso você queira saber mais sobre as escolas eu sugiro este site aqui.
Lógico que receberei 4 alunos para o preparatório do IELTS ano que vem. Existe a possibilidade de eu fazer um preparatório para o IELTS em Campinas no início do ano de 2008. Se alguém estiver interessado é só escrever.

Do you speak English?

Quando eu e meu marido decidimos imigrar, nos sabíamos que uma das maiores barreiras para o imigrante ser bem sucedido é o idioma. No Canadá deve-se pensar em idiomas. Inglês e Francês dependendo da região em que você quer morar e dependendo também do trabalho que você quer exercer.
Vou fazer apenas um parênteses aqui, para um pequeno resumo da minha vida profissional: Sou formada em direito mas decidi seguir a carreira da educação. Morei em San Diego (CA - USA) e Victoria (BC - Canadá) para aperfeiçoar meu inglês e conhecimentos pedagógicos. Fui professora de inglês e depois coordenadora de escolas de inglês em Campinas, São Paulo e Jundiaí. E no último ano no Brasil, coordenava um importante grupo de escolas de idiomas no Brasil com unidades nas grades capitais como Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília entre outras cidades. Tive minha própria agência de turismo e intercâmbio e era representante exclusiva de um college aqui do Canadá. Trabalhei também como produtora de TV e representante do jornal Valor Econômico para publicidade para o interior de São Paulo. Finalmente, trabalhei com moda e estudei design de interiores e design de moda. No fim das contas, consegui ligar todas as habilidades mas não nego que sou uma excelente professora e coordenadora de cursos de inglês com um tino comercial muito apurado (que eu credito ao meu lado árabe...rs...).

Como sou professora de inglês, e cada vez mais venho me aperfeiçoando na área, vim para o Canadá para continuar o meu projeto no ensino de idiomas. Venho formando muitas turmas para o preparatório do TOEFL (teste de proficiência americano) e IELTS (teste de proficiência britânico) e aplicando o TOEIC (teste voltado para busisness). Hoje, morando em Toronto, vejo que poucos falam inglês! Sofro para entender o que a maioria das pessoas que trabalham com telemarketing ou nas grandes lojas querem vender. O inglês é sofrível e o sotaque de muitos imigrantes é de deixar qualquer Canadense achando que mudou de país e não foi informado! No meu entendimento, a economia de Toronto é sustentada pela indústria da imigração. Quando vejo um imigrante trabalhando na Best Buy e querendo vender um computador sem ao menos saber pronunciar o valor corretamente, eu fico me questionando! O que vai acontecer com o inglês? E os imigrantes, muitos deles brasileiros, que moram aqui há mais de 5 anos e ainda sofrem para se comunicar em relação as coisas básicas do dia-a-dia? Por que vivendo em um país que fala inglês, muitos imigrantes ainda não conseguem se comunicar eficientemente? A minha conclusão é de que muitos imigrantes (e muitos ilegais) chegam aqui e acabam tendo que ir para o mercado de trabalho, mesmo sem falar inglês, o que acaba comprometendo os estudos. Finalmente eles conseguem ganhar dinheiro mas a vontade de voltar a estudar já não é tão grande assim.
Não são as agências de intercâmbio que vendem seus programas dizendo que 'você vai aprender inglês por estar imerso?' Se fosse assim, todos os imigrantes com mais de 2 anos no Canadá seriam fluentes. Nós aqui sabemos que não é bem assim que funciona o aprendizado de um novo idioma.
Como santo de casa, raramente faz milagres, meu marido chegou aqui sabendo o que é o tal verbo "tobe" e mais nada. No Brasil ele nunca teve a chance de estudar inglês. Sempre trabalhando em excesso e sem a necessidade do idioma, ele passou anos postergando o primeiro contato com os livros de inglês.
Mas eu entendo o maridão. Sei como nossas vidas estavam corridas lá no Brasil e sei bem que a nossa decisão de imigrar foi rápida para alguém sair do básico para o avançado. Mas o que encontramos aqui não esta no gibi!
O marido foi para o LINC, que é o programa de inglês do governo para NEWCOMERS e tem também a ajuda da professora-esposa para desenvolver seus conhecimentos de inglês. A primeira escola ficava perto do EATON CENTRE e as colegas eram, em sua grande maioria, chinesas. Um dia o marido perguntou:
-Where are you from?
-China, and you?
-Brazil is my country (só para mudar o vocabulário)
-No no Runaudo...is countrilii.
-Hein?! Sorry...WHAT?
-Runauldo...it's no countri...it's countriliiii...
Foi quando o marido chegou a conclusão que linguiça tava comendo cachorro e que a colega chinesa que mal sabia pronunciar Three (3) queria ensinar a pronúncia do inglês enquanto a professora estava ensinando o vocabulário de todas as frutas e verduras para as alunas, senhoras chinesas em torno de 50 anos...e ele...o único homem, pois o outro colega era travesti e ia para a escola travestido e com mais make up que a Elke Maravilha.
O segundo professor que ele teve, em outra escola, é imigrante de língua espanhola, que está no Canadá há muitos anos e quase não tem sotaque, o que e ótimo para os alunos, mas tinha a mania de gritar e dar reguadas na mesa quando os alunos cometiam erros. Os colegas de sala eram em sua maioria de língua espanhola o que fazia a mesa de estudos do marido se transformar no México (nessa escola, os alunos sentam juntos em mesas para 4 ou 5 alunos). O amor da minha vida, chegava em casa PHD em espanhol.
A terceira professora é de origem chinesa e ainda tem um sotaque de doer meus tímpanos. A sorte do brasileiro é que o sotaque dele é neutro, mais fácil de ser entendido. Temos algumas dificuldades mas nada parecido com as dos chineses. A professora era mal humorada, e chamava o Ronaldo de Rulando. Aqui em casa o apelido do marido agora é "rulando lero" em homenagem ao Rolando Lero da escolinha do professor Raimundo.
Agora, o amor da minha vida, está em uma excelente escola. Novinha, com laboratório multi-mídia e professora Canadense. Não e fácil conviver com tantas diferenças em sala de aula, como por exemplo: entender o sotaque do chinês, tolerar o péssimo humor da aluna russa, que muitas vezes se recusa a interagir com os colegas, a tendência dos latinos em ficar falando espanhol entre eles sem nem se preocupar com os outros colegas que não falam espanhol mas, pelo menos a teacher é canadense e sabe pronunciar o nome do marido, corrigir os alunos sem reguadas e manter um ritmo de estudos bacana.
Lógico que ter uma professora particular em casa ajuda, mas sem dúvida, se o marido soubesse que passaria por tantas dificuldades para aprender inglês, ele já teria se matriculado na escola da professora Raimundinha, a esposa dele, que está desenvolvendo um novo método, que já provou ser eficiente.

Are you sure you want to come to Canada and do not learn English before you get here?
Are you sure people in Toronto really speak English?